quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Assim como são as pessoas são as criaturas - parte 4 - festa infantil

Hoje eu fui almoçar sozinha num McDonald's que tem uma mesona que permite compartilhamento sem constrangimento. Abre parênteses: na Europa, uma mesa de quatro lugares em uma lanchonete ou praça pública tem quatro lugares mesmo, ou seja, quatro pessoas totalmente estranhas entre si podem dividir a mesa numa boa. Aqui no Brasil, uma mesa de quatro lugares ocupada por uma pessoa está "lotada", todo mundo evita ela. A gente só se senta junto com quem a gente não conhece quando não tem mais nenhuma mesa vazia. Nesse tal McDonald's tem uma mesa grande que é usada com naturalidade por pessoas sozinhas ou em grupos pequenos, bem europeia. Fecha parênteses.
Sempre procuro sentar a essa mesa quando estou sozinha, porque fico mais perto dos outros e consigo ouvir a conversa alheia - meu passatempo preferido quando não levo companhia comigo. Tem dias em que as pessoas estão mudas, não falam nem ao telefone. Booooooring. Mas hoje foi ótimo.
Fiquei bem em frente a um casal de jovens que estava conversando sobre uns amigos, seus relacionamentos, blablabla, nada de muito interessante, até que teve uma hora que não sei como o assunto foi parar em festas infantis. O rapaz disse que não entendia a profissão de Animador de Festa Infantil. Para que serviria essa profissão tão sem sentido? O animador é um cara que não anima nada, que fica inventando as brincadeiras mais bobas do mundo, em vez de deixar as crianças brincarem de coisas mais interessantes. Eu estava a ponto de explicar que o animador não está lá por causa das crianças, está por causa dos adultos! Sua função é manter as crianças distraídas e ocupadas para não destruírem tudo e nem ficarem torrando a paciência dos pais, que querem ter sossego para conversar com seus amigos (os pais do aniversariante, por exemplo), comer salgadinho e tomar cerveja.
Enquanto eu pensava se ia me meter na conversa ou não, o tal do rapaz fez uma revelação: mesmo quando ele era criança, não gostava de festa infantil! Dos animadores eu já tinha visto que ele não gostava, mas a maior queixa dele nem era essa. O que sempre o incomodava era a insistência de sua mãe para que fosse brincar com "os amiguinhos". Ele rejeitava o rótulo de amigo aplicado a crianças que ele não conhecia. Imagina a mãe querer que ele fizesse amizade ali, na hora, com um total estranho, no tempo de uma festa! Enquanto eu pensava se precisava fazer pacto de amizade para sair brincando, ele levantou a seguinte questão: existe uma receita para fazer amizade? Começou a idealizar: 3 colheres de simpatia, 2 xícaras de alegria... Lembrei do Sheldon na hora! http://www.youtube.com/watch?v=Cj4OqNV59VY
Que criança engraçada deve ter sido esse rapaz. E quantas histórias engraçadas e teorias criativas ele deve ter para compartilhar hoje. #8)